Tudo começou há nove meses, quando eu vi aquelas duas listrinhas rosas no teste de farmácia feito numa manhã de domingo no banheiro de casa.. a partir dali eu sabia que minha vida ia mudar para sempre e radicalmente. O medo me invadiu de imediato, mas a curiosidade de levar uma gravidez adiante fazia meu coração palpitar de emoção e alegria, digaê! Lydi Pink mãe!!
Não foi fácil, mas também não foi difícil, afinal eu sou mulher de 29 anos, engenheira florestal, emancipada e independente (hehe) e contar para família e para os amigos só fortaleceu o sentimento de que esse bebê ia ser a melhor coisa que já tinha acontecido na minha vida *__*
Após os impactos sociais e interações familiares e profissionais, chegou o momento de cuidar da saúde, comecei a tomar as vitaminas, me exercitar e começar a pensar em como seria o parto.. Essa foi a parte difícil.
Meu primeiro pré-natal foi num postinho perto de casa, o serviço público de saúde é realmente lamentável, iniciei em setembro e só consegui uma consulta com obstetra em novembro! Após dois meses de espera, ele falou comigo durante 40 segundos e me dispensou com mil dúvidas na cabeça!! Depois desse episódio resolvi pagar um pré-natal particular, na segunda consulta a médica avaliou a ultrassom e disse – ela nasce em abril, você vai marcar a cesárea para que dia?
Como assim?? Eu quero parto natural!!!
E depois de pesquisar e muito conversar com amigas grávidas e mães, descobri a equipe do parto natural humanizado da UEA e conheci a Lucy, que se tornou além de minha doula, minha amiga! Foi ela quem me apresentou ao Gabriel, obstetra responsável pelo parto domiciliar. Lucy também pariu suas duas filhas em casa, inclusive a mais nova passou pela mão dessa mesma equipe. A ideia de parir a Linda em casa era simplesmente mágica! Imagina!! Ter meu bebê em casa, com a família, num ambiente íntimo, particular, sem aquela pressão de maternidade, sem intervenção hospitalar, sem enfermeiras malvadas, sem médicos invasivos..
A principio minha família foi contra, disseram que eu era louca, que eu ia matar minha filha, minhas amigas mais queridas me perguntaram por que eu, esclarecida, estudada, com pós-graduação, ia me submeter a um parto normal?? Se hoje a medicina está aí pra poupar nós mulheres desse sofrimento??
A partir daí, não era apenas meu parto, era toda uma realidade obstétrica brasileira, os conceitos e preconceitos, a ignorância limitando a informação, o veto ao poder de escolha de mulher, de dizer onde quer parir e como quer parir seu bebê. Hoje no Brasil mais da metade dos partos realizados são por cirurgia cesariana, muitas das vezes desnecessária.
Claro que existem mulheres que escolhem por vontade própria, esse método (hostil) de terem seu bebê, talvez por falta de informação suficiente, ou por medo da “dor” da parto natural (salvo as que REALMENTE precisam fazer a cesária), mas a maioria esmagadora é enganada por médicos, que usam de mitos para incentivar uma intervenção cirúrgica apenas para facilitar o trabalho deles.
VEJA AQUI AS VANTAGENS DO PARTO NATURAL HUMANIZADO
http://www.gestantevita.com.br/index.php/vantagens-do-parto-humanizado/
Levantando essa bandeira, da Liberdade para Parir, conheci outras guerreiras que como eu, se indignaram com esse desrespeito, se cansaram de ver caladas a violência obstétrica se tornar cada vez mais comum, chegando ao ponto de serem tomadas como verdade!
Dessa forma fui contra tudo e contra todos e continuei insistindo em ter meu bebê em casa, como a bisa, a vovó e a mamãe tiveram! A jornada mágica dessa transgressão começou na manhã de sábado de aleluia, 19 de abril.
Por volta das 6h, perdi meu tampão mucoso e as contrações começaram, primeiro irregulares e depois de 2 em 2 min, fiquei muito animada, porque indicava que Linda estava para chegar!
Mamãe e eu preparamos tudo com muito amor, enchemos a piscininha de plástico (porque eu queria parto na água), ligamos o abajur da aromaterapia, botei o pink floyd pra tocar, liguei pra Lucy e pro Gabriel e comecei a rebolar e me concentrar nas contrações com ajuda da minha irmã e do meu cunhado.
Depois de 23h de trabalho de parto, contrações ora intensas, ora leves, banhos quentes, massagens.. consegui dilatar apenas 5cm, fiquei desanimadíssima, eu tinha me envolvido tanto no processo que não tinha observado os sinais: as contrações não eram as reais e sim de treinamento (só que mais fortes), eu não estava dilatando porque o tampão mucoso não tinha descido todo, eu fiquei tão ansiosa querendo minha Linda que quando as contrações de verdade começaram (lá pelas 2 da manhã) eu ja estava exausta, até que às 6 da manhã do domingo eu joguei a toalha e desisti.
O obstetra disse que nós duas estávamos bem, a bolsa não tinha rompido, a membrana estava íntegra e Linda segura, e que provavelmente tinha acontecido foi bloqueio psicológico, e eu tinha duas escolhas : ir pra maternidade e tomar os remédios que aceleram a dilatação e continuar no trabalho de parto por mais 5h, tendo o risco de passar por uma cesariana alegando “não ter passagem”’, ou ficar em casa, descansar e esperar pra ver como o processo evolui naturalmente.
Então resolvi dá mais um tempo antes de pedir intervenção hospitalar.
Dormi um pouco e acordei melhor com contrações bem fraquinhas mas regulares de 1 em 1h e com muita fome! recebi visitinhas das amigas que me deram muito apoio e conforto. Fiquei com muito muito medo de ter tomado a decisão errada, mas lendo alguns artigos que minha irmã me mostrou, vi que é super normal em partos naturais, a mulher ficar exausta e o corpo pede pra parar, fazendo as contrações diminuírem dando sinais que precisa de um tempo pra se re-energizar. E que eu tinha que aproveitar a vantagem de estar em casa e descansar mesmo, comer, rir, me despedir da minha barriga, tirar muitas fotos!!
Ganhei mais ânimo e senti que tudo ia dar certo, percebi que o tempo era da Linda e não meu e que cada parto é único, que eu não deveria me preocupar com dilatação nem a dor, que eu tinha q deixar fluir. Fiquei presa ao tempo e somatizei muito as dores das contrações, isso me distraiu do objetivo de tudo aquilo, que era receber Linda Luz!
No fim da tarde as contrações estavam mais fortes e irregulares, e toda vez que ia ao banheiro percebia que havia perdido um pouco do tampão mucoso. Mamãe me orientou a deitar de lado e relaxar. De noite, lá pelas 9h, eu já estava meio sonolenta mas quando as dores vinham eu tinha que respirar fuuundoo, agora já era minha irmã quem controlava o tempo. Fui do sofá da sala, pra uma cama no quarto que preparamos para a chegada da Linda.
Para mim, as dores estavam iguais e eu pensava que dormia profundamente no intervalo entre elas, minha irmã me contou depois que estavam vindo de 3 a 4 contrações em 10 min.
Então às 5 da manhã da segunda-feira, a bolsa estourou! E eu entrei em pânico!! Nem tinha doído taaantoo assim! Será que tava tudo normal?? Ela já ia nascer???
Nessa onda de desespero, minha irmã olha pra mim e diz – está tudo bem, Linda tá chegando! Vamos tomar um banho?
Amor e respeito! É disso que nós mulheres precisamos e merecemos num momento como esse!
Eu sentia uma cólica muito muito forte, chegava a ser alucinógena, sentia minha barriga endurecer, como se fosse explodir, eu sentia á agua quente correr pelo meu corpo, e sentia Linda descer. Saí do banheiro meio grogue, eu não podia parar aquilo, a dor vinha e ia muito rápido, eu não raciocinava, minha irmã me secou e colocou a parte de cima do biquíni, fui pra sala e me pendurei na rede, a dor vinha e eu segurava forte pra não cair no chão, mamãe foi trocar a água da piscina e minha irmã ligou pra Lucy e Gabriel de novo.
A dor vinha e eu sentia um osso abrir, Linda descia e eu gritei, pela primeira vez em 12 horas, - ela vai nascer! Vai nascer aqui! Vou parir ela aqui em pé, na sala! Mãe!!
Mais uma vez a voz de desespero, mas eu não estava desesperada, eu estava firme, eu sabia que estava acontecendo, eu estava parindo.
Minha irmã mais uma vez interviu – nãaao, ainda não, ainda falta um pouquinho, vamos andar, vamos lá pra piscina!
Como assim não era aquilo ainda?? Mais tarde descobri que essa era a fase das 7 aos 9cm, a chamada fase da covarde.
Segui para a piscina, não lembro direito do que aconteceu, nem a sequencia exata, porque eu saí do meu corpo, as contrações não estavam vindo em intervalos, elas apenas existiam, eu ouvia as vozes da Lucy e do Gabriel, via sombras, me perguntavam que música eu queria ouvir? E mamãe tentando prender meu cabelo. Até que Gabriel disse – Lydi, você tem que virar , eu estava em 4 apoios, apoiada com a cabeça no colo da mamãe e nessa posição não daria pra ver a bebê.
Virei. Mamãe segurando uma perna e minha irmã a outra, que insistiam em tremer e fechar. O que eu sentia não era dor, era fogo. O famoso círculo de fogo. A cabeça de Linda queimava, e o contato com a água fazia tudo aquilo fumegar. Não sei quanto tempo isso durou, porque eu não estava lá, eu não era uma pessoa, eu era um bicho, toda arreganhada, exausta e no terceiro dia de trabalho de parto.
Fiz só uma força a mais, não era uma foooorçaa, era mais uma entrega, eu me joguei e sem gemer nem gritar, Linda Luz saiu!
Só lembro de alguém tirando ela da água e colocando no meu seio, eu olhei pra ela, alucinada ainda e voltando pro meu corpo, olho nos olhos e disse – oi gatinha! E ela chorou e eu imitei.
Ficamos muito tempo assim, sentindo ela comigo e ela me sentindo, ela me olhava! Geentee que olho!!! Eu desacreditava que aquele era meu bebê e que eu tinha conseguido! Tudo tinha passado, a ansiedade, o medo... o círculo ainda queimava, mas bem menos, a placenta saiu inteira, o umbigo foi cortado após parada total da circulação sanguínea e não precisei levar nenhum ponto!
Linda Luz nasceu às 6 e meia da manhã de uma segunda-feira ensolarada no dia 21 de abril, com 3 kg e 50 cm!